Vamos participar do FOLIO, o Festival Literário Internacional de Óbidos e de uns outros eventos mais. Minha programação no evento:
Dia 17/10 estarei em Óbidos, participando do FOLIO, a maior feira literária de Portugal, num debate sobre “Literatura Brasileira Contemporânea”.
Dia 18/10 na Biblioteca José Saramago em Montemor-O-Novo, um bate papo sobre literatura, escrita e livros.
Dia 19/10 no auditório da Casa dos Bicos, em Lisboa, numa conversa sobre o tema “Para que servem os prêmios literários?”
Sempre batendo papo com João Gabriel Paulsen e Diogo Borges.
(As imagens já são de divulgação da Fundação José Saramago e da Folio 2022, pois o evento já está em curso)
FOLIO 2022 – FOLIO EDUCA
Dia da Freguesia: Gaeiras
Paragem Literária – Saramago
LARGO DE SÃO MARCOS, GAEIRAS
Foto: Verónica PauloFOLIO 2022 – FOLIO MAIS
O Poder das Mulheres
Com Ana Abrunhosa, Ministra da Coesão Territorial e Isabel Damasceno, Presidente da CCDRC
Moderação de Telmo Faria
LIVRARIA DO MERCADO
Foto: Verónica PauloFOLIO 2022 –
FOLIO AUTORES // Mesa 2
Tema: Moeda
Paul Mason conversa com Mariana Mortágua
Moderação: Ricardo Alexandre
TENDA VILA LITERÁRIA
Foto: Verónica PauloFOLIO 2022 – (EVENTO)
Foto: Nuno Conceição
Já li várias crônicas e textos críticos de Juliás Fuks e também o belo romance “A Resistência” – que, creio, me deu muita coragem para escrever O Réptil Melancólico. Muitas diferenças entre os livros, mas algumas proximidades: os temas da ditadura militar, do exílio, do retorno a casa, do irmão… E, creio, também um pouco da questão do passado roubado. Solidariedade Fuks, Brasil nunca mais.
Próxima 3a-feira, dia 14 de junho, estarei em Paraty, RJ, discutindo “O Réptil Melancólico” com o Clube de Leitura do Sesc. Será a terceira seção de conversas sobre o livro, lá em Paraty, agora com a presença do autor. As outras duas ocorreram nos dias 31 de maio, 04 de junho passado. Muito legal essa programação – um “esquenta” para o festival Literário Arte da Palavra, que acontece em Paraty em julho – e no qual também estarei presente – e para a Flip, que este ano acontece em novembro (quando espero estar outra vez por lá).
Depois de muito tempo sem postar minhas leituras, o que farei nas próximas semanas, posto aqui a leitura desse livro que me fascinou: O Réptil Melancólico de Fabio Fonseca Horácio-Castro.
Poderia começar falando que o livro é vencedor do prêmio sesc de literatura, mas quero falar mais. Que é um livro fascinante.
Certa feita ouvi dizer que um livro bom é aquele que já nos prende pelo seu prólogo, como Cem Anos de Solidão; A Metamorfose; Grande Sertão; Anna Kariênina, etc. E é o que acontece com O Réptil Melancólico, que já nos fascina logo em sua abertura.
Uma leitura fluida, que nos prende, cujo o enredo gira em torno de Felipe, que foi pra o exílio na Ditadura militar com sua mãe, sem ser perguntado se queria, ou não (as entrelinhas são maravilhosas), mas que quando tem a oportunidade retorna a sua casa do Anfão.
Quando estava lendo, tive a sensação de algumas influências e referências a Cem Anos da Solidão, e quando leio a quarta capa, a surpresa, Marcos Peres diz que o Anfão se avizinha de Macondo.
Enfim, poderia dizer mais sobre, mas deixo agora para que vocês mergulhem nesse livro e se encantem.
Aproveito para dizer que dia 30 de maio (segunda-feira) teremos um encontro com ele às 19h no Sesc de Poços de Caldas para um bate-papo.
Encerro como sempre dizendo que esse livro me acrescentou e aumentou um pouquinho à vida.
“Se diante disso, meu Deus, tu me enches de paciência, se diante da persecução banal da história do quotidiano, tu me dás um rasgo de afeto, se me dás também a generosidade, eu te pergunto, se o puder, meu Deus, por que fizeste de mim um fraco?”.
Aqui a carne da memória sussurra histórias e nos instrui: não há leituras secundárias. Incursionamos por países secretos, atravessamos pequenas almas na pátria dos exilados, num recontar de quando se nasce com toda a história já decidida e a vida demanda reescritura.
A lenda é de um réptil, que vai por dentro – na azulejaria, em poços ou espelhos. Predestinado a olhar, nos confronta com a moral familiar, os simbolismos, as muralhas do espírito. Chega-se ao Anfão e ao velho Malaquias; ao Felipe à procura de João; ) mãe presa e torturada; à avó lembradora; aos homens crescendo em cidades (aladas) que não são suas. Recordações centrífugas e centrípetas. E sussurros: Miguel e cães invisíveis, serpentes icéfalas, lêlures vermelhas. O réptil vaticina que se mora tanto em casas quanto em pensamentos.
Crônicos paradoxos. Lisboa e a Revolução dos Cravos; Paris, pátria superposta; e o que pode ser o Brasil (uma pergunta?). O Estado cínico, as causas ganhas/perdidas, o nunca acontecido. A pragmática da colônia eterna. Utopias cruas. Abraços que garantem o consentimento para se ter um passado. Modo de se fazer: demolir os lugares da memória? Ser uma história-que-não-foi? E: qual é sua origem?
O réptil se completa na prática do jogo. Sem busca, desaparecerá, será silenciado, ou se transformará num homem arrogante em ternos brancos. Pois jogue. Este O réptil melancólico nos enseja um mundo de percepções inegavelmente corajosas e necessárias.
Há 50 anos teve início, nesta data de 12 de abril de 1972, a guerrilha do Araguaia. No Réptil Melancólico, é um tema importante, embora tratado de maneira oblíqua, como é a proposição narrativa e estética do livro. Selma, uma das personagens centrais, tem duas experiências de tortura, que marcam profundamente um dos principais narradores da trama, seu filho, Felipe. Seu percurso de vida é uma tentação narrativa e uma experiência central, absorvente, para mim.
Passei uma parte da infância ouvindo histórias de tortura, que aconteciam ao meu lado e se vinculavam aos contos de terror que, paralelamente, habitavam meu universo: contos da cosmogonia amazônica, contos da floresta negra, fábulas góticas da Ibéria medieval, os contos de Canterbury e todas sorte de monstros, passíveis e impossíveis. Mas a ditadura milutar era o grande monstro. Em nosso abrigo, nossa casa afastada de Belém, cercada de mata, lago, silêncio e distância, escondíamos, muitas vezes, algumas pessoas. Alguns deles vinham do Araguaia, e outros e outras e outras e outras lutas, dentre as muitas que se faziam como a melhor esperança de acabar com a ditadura militar corrupta e abjeta que nos envolvia. Como foi a sua tortura, eu lhes perguntava, com seis, sete, oito anos de idade; e o relato deles é uma das partes mais importantes do Réptil.
A atualidade é algo fútil e fugaz, mas é algo que é mais intensamente do que muitas coisas que duram e que são sérias. Colocar em itálico essa condição de ser, esse é, constitui em evocar uma temporalidade: o intenso é temporal. Não uso o termo temporal como duração no tempo, mas como intensificação do tempo. O evento, o fato, o acontecimento – em síntese, a política – intensificam o tempo presente e, assim, igualmente, o real. Esta é a sua temporalidade.
Os filósofos e os cientistas sociais sempre se mostram desconfiados diante de tudo o que lhes parece efêmero e evanescente. Coisas como a política e a comunicação (para não dizer o jornalismo) são, essencialmente, isso: o entender efêmero e evanescente do mundo.
Porém, Hegel diz que a consciência deve, necessariamente, se confrontar com o elemento histórico: aquilo que se apresenta à consciência, o mundo que se apresenta à consciência. Hegel não fala, necessariamente, aqui, do passado, mas daquilo que faz parte da realidade material do mundo do presente, sendo ao mesmo tempo produto e destino da história.
Concordaria com Hegel, não fosse a sua posição de fala pretender a uma certa ética do dever-ser. Indo além de Hegel, creio que a história se faz também presente em tudo aquilo que é efêmero e evanescente. E, igualmente, não creio que toda inteligência devenha de um confronto.
Vivemos sempre sob intensos temporais de história. A história intensifica-se, também na efemeridade e na evanescência.
O professor Paulo Nunes, da Universidade da Amazônia, publicou um artigo sobre meu livro O Réptil Melancólico na revista digital Variações, dedicada à literatura contemporânea. O texto, “O Réptil Melancólico: Narrar (e ler) na certeza de que ‘toda consciência é miserável’”, pode ser lido aqui,no site a revista.