Morreu ontem, domingo em Madri, o escritor Javier Marías. Tinha 70 anos e foi um dos grandes autores contemporâneos em língua espanhola. Uma pneumonia o deixara em coma há cerca de 30 dias. Sua prosa era introspectiva e digressiva e heterodoxa. Um exercício de compreensão do mundo.

Imagem de divulgação.
Marías nasceu em Madri, em 1951, e cresceu cercado pela literatura e começou a escrever ao 11 anos, para, segundo ele mesmo disse, “continuar a ler aquilo de que gosto”. Sua mãe, Dolores Franco, era escritora e tradutora. Seu pai, o filósofo Julián Marías Aguilera. A ele o escritor dedicou seu romance – em três volumes – O Teu Rosto Amanhã. Teve tios que foram humanistas respeitados: Miguel (crítico de cinema e diretor da Filmoteca Nacional espanhola), Fernando (historiador da arte, especialista internacional na obra de El Greco) e Álvaro (flautista clássico). Na sua infância residiu com a família nos Estados Unidos (o pai havia sido proibido de lecionar na Espanha franquista), numa casa que pertencia a Jorge Guillén, e teve por vizinho Vladímir Nabokov.
Seu primeiro romance foi publicado em 1971, Los Domínios del Lobo. Seguiram-se vários outros, dentre os quais Coração tão Branco, Travesía del Horizonte, El Monarca del Tiempo, El Siglo, O Homem Sentimental, Todas as Almas, Amanhã na Batalha Pensa em Mim e Negras Costas do Tempo numa obra marcada pela subjetividade, por tramas de espionagem e por cenários passados no mundo acadêmico. Não eram temas distantes, pois Marías lecionou durante anos na universidade de Oxford, cercado por intrigas acadêmicas e por colegas cientistas que eram também espiões.
Suas obras foram traduzidas em 46 línguas em publicadas em 59 países. Recebeu incontáveis prêmios literários, mas não o Nobel, apesar das muitas expectativas (justas) criadas a esse respeito no mundo literário. Seu último livro, ¿Será buena persona el cocinero?, chegou às livrarias em fevereiro último. Esse livro traz uma seleção das crônicas que publicou na revista El País Semanal, encarta de El País, onde escreveu durante duas décadas, ou, “más s de 900 domingos”, como dizia.