
A artificialidade não conduz ao artifício. E nem o contrário. Apesar da aparência entre os termos, eles levam a coisas diferentes e até opostas. A artificialidade, o artificial, pretendem à factibilidade, e, por isso, evocam a aparência. Demandam a ambivalência e namoram a aparência.
O artificio, por sua vez, pretende ao caminho. O artifício é fático. Não é um juízo de valor e não é um dispositivo da ética. É um instrumento operador de antídotos para os venenos da artificialidade. A função do artifício é desvendar e eventualmente desmascarar, a artificialidade.
A artificialidade é ornamento, embelezamento, enquanto o artifício, como nos diz Baudelaire, “n’embelli(t) pas la laideur et ne (peut) servir que la beauté”.
O artifício desconstrói a artificialidade, tal como o relativo e a teoria da relatividade desconstroem o relativismo. Na mesma medida, uma coisa é a máquina, e outra, a maquinação. Na mesma medida, os dispositivos cênicos do teatro despem e desvelam as cênicas e a teatralidade da vida e da alma das pessoas e dos mundos.
Da mesma maneira procede a alegoria. A alegoria é um dispositivo fático que foge da ética e dos juízos para desvelar o mundo.