Dezembro tirou deste mundo duas mulheres jornalistas brilhantes e que foram decisivas para desconstruir o patriarcado norte-americano: Eve Babitz (1943-2021) e Joan Didion (1934-2021).
Eve Babitz faleceu em decorrência da doença de Huntington no dia 17 de dezembro. Foi artista visual, mas, sobretudo, a mais importante cronista de Hollywood. Publicava seus artigos em revistas prestigiosas, como a New York Review of Books, a Rolling Stone e a The Village Voice, dentre outras. Também publicou muitos livros, como Eve’s Hollywood (1974), Slow Days, Fast Company (1977), Sex and Rage (1979), Black Swans (1993), Two by Two (1999) ou I Used to Be Charming (2019).

Era autora de uma prosa vibrante e sarcástica, profundamente sarcástica. Começou a carreira conhecida como afilhada de Igor Stravinsky, de quem os pais eram íntimos e se tornou hiper conhecida quando, aos vinte anos, o reconhecido fotógrafo Julian Wasser a fotografou nua, jogando xadrez com Marcel Duchamp.
Quando tinha 54 anos acidentou-se gravemente, quando, enquanto dirigia, sozinha numa estrada, o cigarro que fumava pôs fogo à sua saia de nylon.
No dia 23 de dezembro do ano passado, morreu, também, aos 87 anos, vítima do mal de Parkinson, uma grande jornalista norte-americana, Joan Didion, símbolo do New Journalism e da contracultura da costa Oeste norte-americana. Era autora de centenas de artigos nos jornais e revistas mais importantes dos Estados Unidos, de cinco romances e de dois volumes de memórias, “O Ano do Pensamento Mágico”, no qual descreveu a morte do marido e “Noites Azuis”, sobre a morte da filha. Didion recebeu doutoramentos honoris causa por Harvard e Yale e, tambéme a prestigiada Medalha Nacional das Artes.

Em abril do ano passo a editora Harper Collins, reeditou, no Brasil, seus livros O álbum branco e O ano do pensamento mágico, o primeiro deles fora de catálogo há mais de 30 anos.
As duas jornalistas marcaram muitas épocas recentes – da contracultura dos anos 1960-70 ao pop dos anos 1980-90 e ao contemporâneo posmorfo que o sucedeu. Cabe dizer que foram influentes tanto na “costa Oeste”, onde moravam, como na “costa leste”, o que é muito, muito raro, mais ainda para mulheres.
A Netflix tem um documentário bem interessante sobre Didion: “Joan Didion: The Center Will Not Hold”, feito por Griffin Dunne, seu sobrinho, lançado em 2017.
Em comum entre as duas havia o seu sarcasmo e o feminismo. Certo, não eram teóricas do feminismo e nem do antipatriarcalismo. Você não irá citá-las na maiorias das teses e em discussões sofisticadas (os símbolos são outros), mas elas estavam sempre ali, dizendo, brigando, militando, constrangendo, questionando.