O tema do exílio, claro, é central no livro. Exílio tende a dizer uma experiência de atopia, a ausência de espaço, mas essa experiência não existe, de fato, sem uma paralela acronia, a ausência de tempo. Viver longe do seu lugar é, também, viver sem acompanhar o tempo do seu lugar.
Essa dialogia evoca Bakhtin e seu bem conhecido conceito de cronótopo – o tempo-espaço como unidade de análise da criação literária – mas apenas como um referente. Para dizer o exílio, com sua atopia e acromia co-referentes, o cronótopo não faz sentido. Seria preciso algo como uma acronotopia. Todo exílio é acronotópico.
Certo, também se poderá ver, aqui, a ideia de cronótopo, porque, dirão, a cronotopia não deixa de ser uma acronotopia – à medida em que idealiza um não-lugar e uma não-temporalidade que, pela via da enunciação acabam por se tornar lugar e temporalidade. Mais ou menos. O conceito de temporalidade, em Heidegger e em outros filósofos, não concebe temporalidade como uma experiência do tempo físico, tal como o ser não é, simplesmente, um sujeito e o lugar não é, simplesmente, um espaço. Eis o caminho e a pista. Ademais, cabe lembrar que a acronotopia produz, igualmente, uma acromia: a ausência de tez, a ausência do rubro tempo e da vida coetânea. E por isso, o cronótopo não explica tudo, não explica o traço, o rastro, a ausência.